Hartmut GüntherI
Reinier J. A. RozestratenII
I Professor no Departamento de Psicologia Social e do Trabalho, Universidade de Brasília.
II Professor no Departamento de Psicologia, Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, MS.
Psicologia: Teoria e Pesquisa (Volume 9 / 1 - 1993)
Este trabalho têm por base os textos preparados pelos autores para o IV Simpósio da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP), Brasília, DF, 7 a 9 de
maio de 1992; grupo de trabalho: Mapeamento da Pesquisa em Psicologia e Áreas em Descoberto.
Este trabalho discute aspectos conceituais da psicologia ambiental e faz um rápido sumário de sua história. Conclui-se o trabalho com algumas sugestões quanto ao ensino e pesqisa na área, usando a cidade de Brasília como objeto prototípico.
O objetivo do presente trabalho é o de apresentar algumas considerações sobre pesquisa e ensino na área da psicologia ambiental. Para este fim, far-se-á uma breve caracterização desta área, em seguida um rápido sumário de sua história, e por fim mostrar-se-á como a cidade de Brasília pode ser utilizada como objeto prototípico no ensino e na pesquisa da área.
CARACTERIZAÇÃO DA PSICOLOGIA AMBIENTAL
A psicologia ambiental pode ser definida como o estudo do interrelacionamento entre comportamento e ambiente físico, tanto o construído quanto o natural (Fisher, Bell & Baum, 1984). Esta definição não deixa de ser uma variação da definição de ecologia: “o estudo do interrelacionamento dos organismos com seu ambiente e entre si” (Smith, 1978, p. 197). Considerando que todo comportamento humano acontece em interação com o ambiente, convém analizar algumas características da Psicologia Ambiental, na tentativa de delimitar a área.
Fisher, Bell, & Baum (1984) sublinham seis aspectos como característicos da psicologia ambiental:
Gestalt
Um primeiro elemento que caracteriza a psicologia ambiental é sua abordagem ‘holística’. O efeito do ambiente no organismo não é analisado isolado do seu contexto, nem de maneira unidirecional.
Interrelação
Uma consequência da noção de estudar os fenômenos dentro do seu contexto, é estudar a interrelação, a relação recíproca. Tanto o ambiente influencia o comportamento, como o comportamento influencia o ambiente.
Psicologia social
Uma terceira característica da psicologia ambiental é que muitos dos seus profissionais são treinados como psicólogos sociais. Em parte, este fenômeno deve-se ao fato de que uma série de temas da psicologia ambiental, tais como espaço pessoal, superpopulação, bem como procedimentos metodológicos são da psicologia social.
Interdisciplinaridade
Por suas características particulares o psicólogo ambiental mantém uma interface com outros profissionais que por sua vez estudam o ‘mundo real’ dos seus respectivos pontos de vista. Estudar a inter-relação entre ambiente e indivíduo, exige um trabalho colaborativo com os especialistas das demais áreas de conhecimento. Dependendo do tema, pode-se trabalhar conjuntamente com engenheiros, arquitetos, biólogos, planejadores urbanos, paisagistas, juristas, climatólogos, médicos etc.
Multi-metodológico
Considerando tanto o fato de ser interdisciplinar, quanto de ser ampla nos assuntos que trata, a psicologia ambiental não utiliza uma abordagem metodológica única. Sem dúvida, por tratar de problemas do ‘mundo real’ utiliza menos a situação do laboratório, mas não a exclui. O que determina a escolha da metodologia (e, implicitamente, a escolha do local da pesquisa como campo ou laboratório) é o problema, e muitos deles se beneficiam com a utilização de uma pluralidade de métodos, podendo-se agregar métodos observacionais, experimentais e/ou de entrevista, entre outros. Entretanto, há uma tendência no sentido da pesquisa ambiental procurar primeiro estudar o mundo real e somente ir ao laboratório quando necessário (Stokols, 1978; Sommer, 1983).
Pesquisa-ação
Um último elemento que caracteriza a psicologia ambiental é o seu posicionamento a respeito do suposto conflito entre pesquisa básica e aplicada. Enquanto se afirma que o objetivo da pesquisa básica é o de explicar o comportamento genérico, a pesquisa aplicada se defronta com um problema concreto, no que diz respeito a predizer e/ou controlar comportamento específico. No contexto da psicologia ambiental, esta distinção faz ainda menos sentido do que em outras áreas da psicologia, pois quase toda pesquisa se orienta para um problema ou visa ajudar na resolução de algo prático. É neste contexto que se contribui para a teoria da psicologia ambiental. O modelo que é utilizado frequentemente é o de pesquisa-ação, postura esta na qual o pesquisador tenta contribuir, ao mesmo tempo, para teoria e prática da sua área (Sommer, 1977, 1987).
Resumindo, as seis características da psicologia ambiental de acordo com Fischer et al. (1984) são gestaltista, ecológica, social, interdisciplinar, multi-metodológica e de pesquisa-ação. Tanto no primeiro, como no segundo e no último ítem mostra-se a influência das idéias de Kurt Lewin, como um dos pioneiros da psicologia da Gestalt, já chamando atenção para a inter-relação pessoa-ambiente e visava também a aplicabilidade na pesquisa-ação (Lewin, 1948, 1965).
A apresentação de Fischer et al. sobre as características da psicologia ambiental não pretende, em absoluto, dogmatizar este ponto de vista. As características que um psicólogo ambiental aceita como essenciais dependem em parte de sua posição geral frente à psicologia considerando-a uma ciência natural ou uma ciência humana. Características como transacional, teleológica, organísmica, explicativa entre outras, são mencionadas na busca de uma caractererização desta relativamente nova área da psicologia, sendo também amplamente discutidas por Wapner (1987).Uma sub-área de qualquer ciência, neste caso da psicologia, não se caracteriza por apenas seus pontos particulares de vista e preferências metodológicas mas também, e até essencialmente, pelos assuntos e temas que estuda ou pretende estudar. Quanto aos temas abordados pela psicologia ambiental, uma leitura de recentes revisões na área (Craik, 1973; Holahan, 1986; Russell & Ward, 1982; Saegert & Winkel, 1990; Stokols, 1978) ou o índice do Handbook of Environmental Psychology (Stokols & Altman, 1987), mostram sua grande diversidade: desde a percepção e cognição do ambiente; efeito do ambiente no comportamento; ambientes diferenciados para crianças, jovens, adultos, trabalhadores; ambientes específicos como cidades; construção de ambientes para obter determinados efeitos sobre o comportamento; mudanças de atitudes, percepções e comportamento frente ao ambiente; mudanças e planejamento do ambiente e preservação do meio ambiente.
Diante da grande diversidade de temas na área há quem afirme que “psicologia ambiental não é uma subdisciplina integrada dentro da disciplina da psicologia. [Talvez] possa ser mais útil pensar em psicologia ambiental como uma federação de várias áreas de pesquisa ativa” (Darley e Gilbert,1985, p. 949). Stokols e Altman (1987) rejeitam, a nosso ver com razão, esta caracterização da área como a-teórica, já que justificam a publicação do Handbook of Environmental Psychology pela “crescente ênfase em integração teórica e coerência” (p. 2). Por outro lado, e apesar da grande diversidade de temas, verifica-se nos livros textos da área (Altman, 1975; Fisher, Bell, & Baum, 1984; Gifford, 1987; Heimstra & McFarling, 1978; Lee, 1977) que um cânon mínimo de temas para a disciplina psicologia ambiental tem se desenvolvido. Gifford (1987) os organiza em processos individuais (percepção e avaliação do ambiente, personalidade e ambiente), processos sociais (espaço pessoal, territorialidade, aglomeração, privacidade) e processos societais (comunidade, ambientes especificos como trabalho, viagem, lazer, planejamento de ambientes apropriados, e promoção ambiental/ecológica).
Diante da repetida afirmação de que a psicologia ambiental tem suas raízes não apenas na psicologia tradicional, mas em muitas outras áreas, tais como ergonomia, arquitetura, urbanismo, paisagismo, geografia social, sociologia urbana, biologia e meteorologia, é importante salientar um dos aspectos que distingue a psicologia ambiental das suas raízes, e que constitui um dos elos entre suas vertentes: a atenção ao lugar, i.e., a localização do indivíduo diante dos elementos do seu ambiente.
Considerando lugar como uma variável antecedente central, a abordagem ambiental contesta a possibilidade de estudar os fenômenos psicológicos de maneira abstrata numa visão etic.
Os termos etic e emic foram introduzidos pela psicologia transcultural a partir dos termos phonetics (fonética) e phonemics (fonêmica). Enquanto a fonética estuda os sons, sem levar em conta a pertinência dos mesmos a uma determinada língua, o estudo dos sons de uma língua específica resulta na identificação dos segmentos mínimos distinguíveis nestea, i.e., dos fonemas., isto é fora do seu contexto. Tal visão etic, de acordo com Brislin (1980), contrapõe-se à pesquisa emic, a qual descreve comportamento em contextos culturais específicos. Gergen (1973) fez esta crítica explicitamente, quando argumentou que a psicologia (social) não poderia ser entendida fora do seu contexto histórico, i.e., falando da variável contextual tempo. Eckensberger & Krewer (1990) chegam a argumentar que a psicologia transcultural, embora lide com a variável lugar, não foi suficientemente incisiva na exploração desta variável, cabendo à psicologia ambiental o estudo da relação indivíduo-ambiente.
Resta colocar que o surgimento da psicologia ambiental na década de 1970 é comumente atribuida a um aumento de problemas ambientais e à incapacidade patente da psicologia tradicional em lidar com os mesmos. Assim, desde sua origem, ela contém uma crítica implícita à abordagem etic, ou descontextualizada do comportamento. Segundo Proshansky, Ittelson, & Rivlin (1970), a psicologia ambiental se diferencia das demais ciências, devido a priorização de uma análise da interrelação ativa entre o indivíduo e o ambiente, não se limitando ao estudo de estímulos e respostas (S-R). Os autores apontam, ainda, quatro aspectos que dão razão à existência da psicologia ambiental: estuda o ambiente ordenado e definido pelo indivíduo; seus problemas científicos estão relacionados com problemas sociais emergentes; é de natureza multidisciplinar; e estuda o indivíduo como parte integrada de toda situação problematica.
BREVE HISTÓRIA DA PSICOLOGIA AMBIENTAL
A afirmação de Ebbinghaus (citado em Boring, 1929, p. vii), segundo a qual a ‘psicologia tem um longo passado, mas apenas uma breve história’ aplica-se igualmente a psicologia ambiental. Existe, entretanto, uma importante variante: as raízes da psicologia ambiental são não apenas longas, temporalmente, mas também amplas, no que diz respeito a sua extensão em outras áreas do conhecimento. Moore (1987, p. 1363) afirma que as raízes da psicologia ambiental nos EUA se localizam em meados do século 19; cita, entretanto, um estudo de Festinger, Schachter e Bach de 1950 sobre o desenvolvimento de grupos sociais informais em função de aspectos ambientais como o ponto de partida isolada da área. Psicologia ambiental começou a se afirmar como área distinta de estudo a partir da década de 1970 em vários lugares nos EUA. O primeiro destes mencionados por Lévy-Leboyer (1980) é Nova Yorque onde Ittelson e Proshansky começaram a estudar, desde 1958, a influência da arquitetura hospitalar sobre o comportamento de doentes mentais. Outro lugar nos EUA citado por Lévy-Leboyer é o Massachusetts Institute of Technology, onde Lynch e sua equipe estudaram a percepção do espaço urbano, resultando na edição do já clássico livro The image of the city (1960/1988). No nível forma a psicologia ambiental surgiu nos EUA em 1967 com a fundação do programa de doutorado na área na City University of New York sob a liderança de Proshansky (1990). Entretanto, Altman e Christensen afirmam que “esta disciplina, focalizada em problemas, surgiu, parcialmente por intenção, parcialmente por acaso, nas décadas de 1960 e 1970. ... De fato, o primeiro Dia da Terra na primavera de 1970 galvanizou a atitude pública em volta de preocupações ambientais” (1990, p. 1).
Conforme Lévy-Leboyer (1980), a área adqueriu status científico através de três publicações: (1) um número especial do Journal of Social Issues (Kates e Wohlwill, 1966), (2) o artigo The emerging discipline of environmental psychology (Wohlwill, 1970) e (3) a primeira das revisões de literatura da área no Annual Review of Psychology (Craik, 1973). Alguns dos autores dos capítulos do Handbook of environmental psychology (Stokols e Altman, 1987) que tratam da área em diversos países, apontam, entretanto, estudos individuais ainda mais antigos, ou salientam a importante contribuição de áreas afins.
O primeiro a estudar fenômenos geo-psicológicos na Alemanha foi Hellpach (citado por Kruse e Graumann, 1987) que em 1924 introduziu o termo Psychologie der Umwelt (ambiente). Este autor diferenciou entre efeitos ambientais de cunho geo-psicológico (luz, clima, montanhas), socio-psicológico (oriundos de outros seres humanos) e cultural (instituições, leis, costumes). Posteriormente, distinguiu ainda o ambiente tecto-psicológico (espaço, móveis, casa, rua, veículos) (citado por Kruse & Graumann, 1987; Kruse, Graumann & Lantermann, 1990). Hagino, Mochizuki, & Yamamoto (1987) salientam a longa tradição em se preocupar com o relacionamento entre ambiente e estilo de vida no Japão, citando o caso de desastres naturais (terremotos), e a estrutura da casa japonesa. Conforme estes autores, a relação entre clima e indivíduo é tema de um livro Watsuji em 1935, e nas décadas de 1950 e 1960 observa-se o início de uma série de estudos sobre ambiente e personalidade. O primeiro livro da área foi publicado em 1961 por Kobayashi, intitulado Introdução à psicologia arquitetônica.
Jodelet (1987) relata que os primeiros estudos da área de psicologia ambiental na França começaram a ser desenvolvidos no fim da década de 1950, “mas foram realizados principalmente pelas ciências vizinhas à psicologia” (p. 1172).
Canter & Donald (1987) semelhantemente à Jodelet, apontam estudos em áreas vizinhas, como sociologia urbana, geografia comportamental, e planejamento ambiental na década de 1960, como insumo importante para o crescimento da psicologia ambiental na Grã-Bretanha.
Küller (1987) fala em estudos pioneiros na década de 1940 na Suécia. Stringer & Kremer (1987) afirmam que, na Holanda, a área teve início em 1962, enquanto que na Austrália os primeiros estudos apareceram no início da década de 1970 (Thorne & Hall, 1987).
O capítulo sobre psicologia ambiental na antiga União Soviética relata principalmente trabalhos realizados na República da Estônia, ou por profissionais de origem estoniana (Niit, Heidmets & Kruusvall, 1987). Esta área, como tal, começou a se estabelecer na década de 1970 na então URSS.
Sánchez, Wiesenfeld e Cronick (1987) apresentam uma perspectiva latino-americana da psicologia ambiental, relatando pesquisas realizadas na Argentina, Brasil, Colombia, México, República Dominicana e Venezuela. Em termos gerais, ela começa na década de 1970, sendo mais avançada no México e na Venezuela.
Quanto à situação da psicologia ambiental no Brasil, Sánchez et al. (1987) baseiam suas observações em entrevistas com pesquisadores do Rio de Janeiro e São Paulo, sendo que as pesquisas assim relatados se concentram em estudos sobre ambientes habitacionais. Os autores deste trabalho estão cientes de trabalhos e/ou pesquisadores na PUC-RS, UFSC, USP-SP, USP-RP, PUC-SP, UFMG, UnB, UFPe, UFPb e UFRN, tanto em departamentos de psicologia, quanto de arquitetura / urbanismo e engenharia de transporte. Um mapeamento confiável, entretanto, se torna difícil uma vez que os trabalhos e teses se escondem nas mais diversas áreas da psicologia bem como outras áreas tais como arquitetura, urbanismo, comunicação, artes, relações públicas, propaganda e turismo. Atualmente, um levantamento destes trabalhos está sendo realizazdo, esperando-se uma resenha em futuro próximo.
CONSIDERAÇÕES PROGRAMÁTICAS
Sendo a psicologia ambiental um ramo relativamente novo da psicologia, e, sem dúvida, uma área em descoberto no Brasil com pouca pesquisa e poucos cursos onde a disciplina figura no elenco das disciplinas, é facil afirmar que não falta ambiente que mereça ser estudado. Assim, pretende-se fazer algumas sugestões para a difusão da psicologia ambiental através do ensino bem como de pesquisa na área. Vale ressaltar desde o início que, embora ensino e pesquisa sejam tratados separadamente, qualquer avanço na difusão da área requer uma ação coordenada.
Constatamos que a área da psicologia ambiental é muito extensa, preocupada, especialmente, com problemas locais e específicos. Além do mais, a preocupação ecológica surgiu nos países do primeiro mundo, que já atingiram um nível de desenvolvimento tal, que permite o aparente luxo de atentar mais à preservação do que a exploração indevida e degradação do meio ambiente. Qual, então, o rumo que a psicologia ambiental pode tomar no Brasil?
Apresentamos inicialmente algumas considerações sobre ensino centrado num objeto prototípico, utilizando, a título de exemplo, a cidade de Brasília, como objeto de estudo numa disciplina da psicologia ambiental. A seguir, resumimos alguns idéias de Sommer (1990; Sommer e Wicker, 1991) sobre pesquisa local e o uso das ciências naturais como modelo de pesquisa para a psicologia ambiental.
Ensino Centrado num Objeto Prototípico
Em um artigo intitulado The mushroom curriculum: Using natural history to teach psychology, Sommer (1989) relata uma experiência de ensino centrado num objeto prototípico. Partindo de comportamentos como coleta, classificação, e uso de cogumelos, bem como percepções, estereótipos e atitudes acerca dos mesmos, ofereceu um seminário introdutório à psicologia geral. Comenta que “o seminário ofereceu a oportunidade de passar de experiência concreta para princípios gerais de percepção, aprendizagem, psicologia social e psicologia clínica” (p.84). Aplicada à psicologia geral, esta abordagem tem o potencial de unificar uma vasta gama de informação. Tratar dos diversos temas da psicologia geral como aspectos de uma mesma realidade permite mostrar a maneira em que os diferentes ramos da psicologia são interrelacionados. Tal compreensão das inter-relações muitas vezes desaparece, quase que por necessidade, no ensino isolado das disciplinas individuais. Desta mesma maneira, vemos a possibilidade de apresentar didaticamente a extensa variedade dos temas da psicologia ambiental, aproveitando-se duas de suas características: ênfase no contexto e inter-relacionamento entre ambiente e comportamento. Num segundo passo, o material aprendido pode ser generalizado para outras realidades, tarefa esta que é essencial em qualquer esforço de ensino.
Como já foi constatado, a psicologia ambiental trata de um grande leque de temas, recorrendo às mais diversas teorias e métodos. Por outro lado, há de se salientar o embasamento da psicologia ambiental na teoria da Gestalt, bem como sua postura ecológica, i.e., a ênfase no inter-relacionamento. É esta a dimensão da psicologia ambiental, na qual vemos a possibilidade de apresentar didaticamente a variedade de temas da área.
TEMAS DA PSICOLOGIA AMBIENTAL E A CIDADE DE BRASÍLIA
A título de exemplo, utilizaremos a cidade de Brasília como objeto prototípico para o ensino de psicologia ambiental, visto que um dos autores está trabalhando atualmente nesta cidade: nada mais natural do que aproveitar o próprio ambiente.
Como outras cidades planejadas, Brasília provoca reações extremas. Goerdeler (1988) conta que Niemeyer falou “eu espero que Brasília seja uma cidade de pessoas felizes” (p. 64), mas concluiu que esta ‘utopia decretada’ não deu certo. No planejamento da cidade, os elementos do desenho urbano racional (habitação, trabalho, recreação e circulação) foram levados em conta, no entanto, Ficher e Acayaba afirmam que “valorizando as soluções originais e critérios formais, não foram exigidos estudos econômicos, geográficos ou sociológicos” (1982, p. 36). É notável que planejadores e arquitetos, bem como críticos não tenham perguntado o que aqueles que eventualmente iriam viver nesta cidade teriam a dizer sobre estes aspectos da qualidade de vida em Brasília. Assim, não há dúvida de que a cidade oferece grande potencial para estudos dos temas do cânon da psicologia ambiental. Para este exemplo, seguimos a organização de Gifford (1987), embora os temas mencionados constituam apenas uma amostra.
Quanto aos processos individuais, como percepção e avaliação do ambiente, Brasília permite estudos prototípicos desde percepção visual e estética (Kohlsdorf, 1985), mapeamento cognitivo e orientação na cidade, à avaliação da qualidade de vida (Günther, 1991). O tema personalidade e ambiente inclui questões sobre as características do Candango e do Brasiliense, mudanças de comportamento decorrentes de variações sazonais, ou estratégias para lidar com um ambiente setorizado e estruturado para resolver os afazeres.
Para o estudo dos processos sociais (i.e., espaço pessoal, territorialidade, aglomeração, privacidade) existem inúmeras possibilidades de estudo no Distrito Federal: a própria divisão do espaço no DF (Ferreira, 1985), colocando atividades e grupos sociais em setores diferentes; a questão do espaço público, seja nos blocos das superquadras, seja nas áreas comerciais; a questão da territorialidade nas brigas de grupos de jovens (‘galeras’) morando em quadras diferentes; ou o senso de privacidade entre moradores dos chamados setores habitacionais individuais, habitacionais individuais geminados, ou de habitação conjugada.
Quanto aos temas agrupados na categoria processos societais (i.e., comunidade, ambientes especificos como trabalho, viagem, lazer, planejamento de ambientes apropriados, e promoção ambiental/ecológica), a cidade igualmente oferece muitas oportunidades para ensino, pesquisa, e até extensão. Relembrando os elementos do desenho urbano racional (habitação, trabalho, recreação e transporte) sugerem-se estudos sobre assuntos tais como: senso de comunidade nas superquadras, adequação da habitação para diferentes faixas etárias (crianças, jovens, ou idosos), avaliações do acesso a determinados locais, bem como dos ambientes dos mesmos (e.g. locais de trabalho ou de prestação de serviços à população), e, ainda, avaliação das oportunidades de lazer. A localização geográfica e climática da cidade, implica numa série de desafios ecológicos e oportunidades de estudos comportamentais: por exemplo, os longos períodos sem chuva com a sua necessidade de conservação de água e do verde, ou o consumo e conservação de energia. O próprio planejamento urbano com muito espaço e áreas verdes implica em desafios no que diz respeito a transporte ou manutenção. Concluindo esta parte do trabalho, resta apenas reiterar que a lista de temas a serem pesquisados, e que podem servir como exemplos para o ensino de psicologia ambiental, é muito extenso.
Alguns destes temas estão sendo explorados em trabalhos práticos da disciplina ‘Psicologia Ambiental’ oferecida na UnB. Outros servem como temas de teses de mestrado (Gouveia, 1991; Nunes, 1991; Solórzano, 1991), outros são temas de pesquisa ora em andamento sobre superquadras como vizinhanças (Günther, Pfeiffer e Silva, 1992) ou bicicletas como modo de transporte alternativo em Brasília.
Quanto à possibilidade de generalizar este exemplo, acreditamos que outras cidades, ou até ambientes mais restritos tais como bairros, ou até locais mais circunscritos como um campus universitário, um hospital, um shopping podem servir como objetos prototípicos para o ensino da psicologia ambiental. Entretanto, quanto mais complexo o ambiente prototípico, mais desafios para atividades de ensino e pesquisa.
Non scholae, sed vitae discimos (aprendemos não para a escola mas para a vida) afirmaram os romanos; criar a possibilidade de generalizar é a tarefa essencial de qualquer ensino. Utilizando o próprio ambiente como objeto prototípico certamente encurta a distância entre a sala de aula e a realidade extra-classe a ser defrontada no futuro. Mais importante, entretanto, é que a mensagem essencial da psicologia ambiental, i.e., a perspectiva ecológica, seja transmitida de maneira inequívoca, mostrando a relação recíproca entre indivíduo e meio ambiente.
PESQUISA LOCAL
Já afirmamos que a psicologia ambiental, ao enfatizar a variável lugar, questiona a possibilidade de uma psicologia etic, não contextualizada. A tentativa de desenvolver uma psicologia etic do ser humano implica numa concentração em processos e fenômenos universais na espécie homo sapiens. A abordagem emic, contextualizada, por outro lado, aceita a possibilidade de que haja variação pelo menos transcultural de processos e fenômenos psicológicos. Uma das conseqüências deste questionamento, é a de estudar variações locais de um fenômeno psicológico de maneira proposital, semelhantemente a como a biologia estuda variações locais da fauna ou flora. Assim, a sugestão de Sommer (1990) de seguir o modelo da pesquisa das ciências naturais, especificamente da biologia se fundamenta na observação de que historicamente, a psicologia passou da fase filosófica quase que diretamente para o laboratório, sem ter demorada nos estudos observacionais de campo. O estudo de uma variação local de algum fenômeno psicológico não somente leva em conta o lugar como variável importante, mas todas as circumstâncias do local e sua influência sobre o fenômeno. Ao contrário de estudos no laboratório, nos quais as variáveis ambientais são tratados como ‘contaminantes’ e precisam ser 'controlados’, recomenda-se especial atenção a estas variáveis contextuais. Isto não quer dizer, que uma vez isolado algum fenômeno, este não possa ou não deva ser estudado também sob as condições que só um laboratório permite, mas simplesmente reafirma a importância (a) da variação local, e (b) o inter-relacionamento entre o fenômeno de interesse e o seu contexto.
Barker (1968) usou o termo “behavior setting” (cenário comportamental) para descrever o contexto ambiental que co-determina as características de um comportamento. Da mesma maneira como Barker estudou intensivamente pequenas comunidades, Sommer (1990) sugere que a partir de estudos locais, pode-se chegar, eventualmente, a uma generalização. Subsequentemente, Sommer & Wicker (1991) levam esta noção do cenário comportamental e da pesquisa local um passo à frente, quando sugerem uma taxonomia para cenários comportamentais. Usando o exemplo de um posto de gasolina, apresentam a seguinte classificação: (1) Família: posto de serviço; (2) Genotipo: posto de gasolina; (3) Sub-genotipo: auto-serviço; (4) Cenário comportamental: Al's Posto Chevron na esquina da rua 6 e Chestnut; (5) Sub-cenário: caixa registradora, bomba de gasolina (p. 135).
Desta ótica, a qualidade de um determinado comportamento não somente muda de um cenário comportamental para o outro, como sugere Barker, mas dentro de um determinado cenário comportamental seria possível determinar variações locais, que por sua vez influenciam de maneira diferenciada no comportamento do indivíduo. Esta taxonomia dos cenários comportamentais permite uma melhor análise de como os elementos do ambiente influenciam um determinado comportamento. Verifica-se, nesta ponte, uma ligação para a análise de comportamento: a título de exemplo, lembramos, neste contexto, no nível teórico, o trabalho de Reese & Woolfenden (1973), enquanto no nível prático os de Geller (1987).As implicações práticas desta abordagem para a pesquisa na área da psicologia ambiental no Brasil resumem-se no lema ecólogo agir localmente e pensar globalmente. No caso, significa realizar pesquisas sobre problemas locais que tenham o potencial de impacto benéfico sobre o ambiente, sem perder a vista de que maneira trabalhos locais se inter-relacionam, tanto entre si, quanto com os de outros lugares.
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