Não é fácil ser bebê, embora muitos acreditem que a vida deles é moleza. Ser tão pequeno e dependente, entender muito pouco sobre o que acontece no mundo à sua volta, sentir coisas e não ter as palavras para explicar e nem a compreensão dos outros é bem difícil. Crescer é uma tarefa árdua e implica, entre outras coisas, em aguentar as frustrações e transformá-las em linguagem.
A chupeta é um recurso usado para substituir algumas das funções da mãe. Essa espécie de pílula de mãe à disposição a qualquer hora deve e pode ser bastante usada quando a criança é pequena. Um calmante para circunstâncias especiais como: dor, medo, fome, hora de dormir, percepção de separação da mãe e para momentos de angústia — muito frequentes no universo infantil.
Além da chupeta, crianças podem se beneficiar do uso de um bicho de pelúcia, um paninho ou mesmo um travesseiro. Objetos de estimação devem ser usados, mas utilizar esses recursos continuamente, diante de qualquer frustração ou medo, principalmente quando a criança é mais velha, indica que a criança não está aguentando as dificuldades próprias do crescimento. É como se necessitasse de uma toca para se esconder e se aliviar das pressões cotidianas. As situações de frustração e os medos não estão sendo digeridos ou superados. Essa criança está precisando de mãe, de acolhimento e de compreensão, para dar um salto para frente. Quando ela estiver mais fortalecida largará ou negociará a perda dos objetos de estimação, naturalmente.
Tanto para a chupeta como para as frutas o ideal é que caiam de maduro.
Luciana Saddi é psicanalista, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise (SP), mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP e autora dos livros de ficção O amor leva a um liquidificador (Ed. Casa do Psicólogo) e Perpétuo Socorro (Ed. Jaboticaba). Assinou por mais de dois anos a coluna Fale com Ela na "Revista da Folha", do jornal Folha de São Paulo. Representante do Endangered Bodies no Brasil.
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