A renúncia é um processo. Costuma ser o fim de uma longa jornada - feita de idas e vindas, ponderações e desespero - que leva à conclusão de que nem tudo que é bom faz bem. Não há fórmula para realizá-la, durante o trajeto cada um se descobre e, simultaneamente, inventa um caminho singular.
É frequente os psicanalistas serem procurados para tratar das dores do amor, das apostas fracassadas e das dificuldades em seguir em frente. Deixar para trás situações e parcerias frustrantes é difícil - não há fórmulas para aplicar nessa empreitada. Amores impossíveis, paixões descabidas e sonhos desfeitos, que certamente nos levarão à derrota, exigem que tenhamos capacidade para renunciar.
Toda renúncia pede determinação. É preciso capacidade de lidar com a enorme dor provocada pela falta e perda de um prazer. Renunciar significa substituir uma satisfação imediata por outra, longínqua; mas a recompensa por esse sacrifício, às vezes, demora e não está garantida. Quem renuncia escolhe ter um buraco dentro de si.
A capacidade de se transformar e de aprender com as experiências poderá levar ao desligamento desejado ou a outro lugar ainda desconhecido. O trabalho é árduo porque não se propõe apenas a tirar alguém ou algo da nossa vida e deixar tudo como era antes, significa tirar a gente da gente mesmo. E ninguém gosta da sensação de ser arrancado de um lugar conhecido para ser atirado na escuridão.
Luciana Saddi é psicanalista, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise (SP), mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP e autora dos livros de ficção O amor leva a um liquidificador (Ed. Casa do Psicólogo) e Perpétuo Socorro (Ed. Jaboticaba). Assinou por mais de dois anos a coluna Fale com Ela na "Revista da Folha", do jornal Folha de São Paulo. Representante do Endangered Bodies no Brasil.
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