É uma atitude bastante familiar ao homem, segundo a grande analista de bebês e crianças, Melanie Klein. Ela estudou os impulsos destrutivos desde as primeiras relações do bebê com a mãe e considerou a agressividade como sendo inata, embora com intensidade variável de pessoa para pessoa, dependendo de fatores constitucionais como voracidade, angústia e de fatores externos como frustrações, privações e até agressões.
A inveja é um sentimento raivoso contra alguém que possui ou desfruta algo desejável. Sofremos ao ver o outro possuir o que queremos para nós. Sendo assim, o impulso invejoso prevê tirar ou destruir algo de bom que o outro tem. Ocorre numa relação dual e tem efeito deletério sobre o desenvolvimento da capacidade de usufruir a felicidade.
O invejoso passa mal ao ver a fruição da alegria alheia. Transforma admiração em escárnio. Sente-se à vontade apenas com o infortúnio dos outros e tem necessidade imperiosa de desvalorizar tudo e todos, portanto, não há como satisfazê-lo, os esforços são vãos porque ele não consegue sentir nada de bom vindo de alguém.
Para o escritor Chaucer, a inveja é o pior dos pecados porque todos os outros atacam uma virtude, mas a inveja ataca todas as virtudes, é contra tudo que seja bom.
Uma paixão vil e altamente destrutiva que pode prevalecer quando o ódio e o ressentimento não cedem espaço ao amor e à gratidão. Reconhecer as qualidades alheias, suas vitórias e mesmo posses não é muito fácil para ninguém. Uma pontada de inveja parece nos acompanhar inúmeras vezes, mais do que aguentamos admitir. Circunstâncias infelizes e frustrações excessivas no decorrer da vida despertam inveja e ódio, sem dúvida, mas a forma como vivemos isso difere enormemente de pessoa para pessoa.
A felicidade depende da capacidade de reconhecer as qualidades do outro e de poder amar, inclusive amar o que não se tem, depende de boa dose de generosidade. São esses fatores internos, muito mais do que de gratificações eventuais, que fazem toda a diferença.
Luciana Saddi é psicanalista, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise (SP), mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP e autora dos livros de ficção O amor leva a um liquidificador (Ed. Casa do Psicólogo) e Perpétuo Socorro (Ed. Jaboticaba). Assinou por mais de dois anos a coluna Fale com Ela na "Revista da Folha", do jornal Folha de São Paulo. Representante do Endangered Bodies no Brasil.
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