A mais bela e importante aquisição humana. A palavra é inseparável do pensamento. Não é possível pensar sem nomear. Os nomes das coisas, dos afetos, das ideias racionais ou irracionais. Cada palavra cria um mundo novo de sentidos e de possibilidades. O vocabulário muda e se expande à medida que estabelecemos novas aquisições sociais e pessoais.
A palavra pode ser plena como a poesia que caça a essência das coisas e nos espeta com sentidos inusuais. A palavra pode ser como a prosa que mergulha no mundo e se derrama pelos livros de referência. A palavra pode ser vazia, conversa fiada. A palavra cria amantes, gera guerras, e, pode funcionar como um atentado terrorista, mas também acalma, nina, aconchega. É um instrumento extremamente poderoso.
Uma das primeiras pacientes de Freud, antes da psicanálise se transformar num conjunto de conhecimento aceito pela comunidade, chamou o tratamento que fazia com ele de cura pela palavra.
Ao falar nos revelamos, nos traímos. Quando conseguimos dizer o que queremos (é preciso coragem) nos colocamos de forma singular no mundo. Mas o silêncio também faz parte da comunicação e pode significar indiferença, superioridade, medo de se mostrar, insegurança.
A palavra inibida, quase casta, lutando contra a autonomia do homem ou palavra liberta, capaz de estender as fronteiras do pensamento? Os psicanalistas perceberam a importância da palavra plena de afeto no tratamento dos sofrimentos psíquicos. Desenvolveram um dispositivo que permite a livre expressão do sujeito. A singularidade é seu fruto. E também é sempre um alto um preço a se pagar.
Luciana Saddi é psicanalista, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise (SP), mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP e autora dos livros de ficção O amor leva a um liquidificador (Ed. Casa do Psicólogo) e Perpétuo Socorro (Ed. Jaboticaba). Assinou por mais de dois anos a coluna Fale com Ela na "Revista da Folha", do jornal Folha de São Paulo. Representante do Endangered Bodies no Brasil.
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