A curiosidade infantil se manifesta desde a tenra idade. Crianças querem ver, tocar, cheirar, lamber e morder, frequentemente perguntam aos adultos em quem confiam, sobre os temas que lhes interessam.
Por meio desse intenso processo de investigação um senso mais realista se forma em oposição a uma visão um tanto mágica do mundo. Esse processo é longo e deve ser incentivado pelos pais, pois significa que a inteligência da criança está se desenvolvendo.
A capacidade de indagar sobre a vida e o mundo surge mais intensamente por volta dos 3 anos de idade e, em geral, está associada à curiosidade sobre a diferença entre os gêneros e a sexualidade. De onde vêm os bebês? Como são feitos? São perguntas básicas que revelam os interesses das crianças pelo corpo da mãe, do pai e pelo funcionamento e características do próprio corpo. Os adultos nunca devem mentir para as crianças, por mais constrangedor que seja. Devem acompanhar a curiosidade e responder na medida da capacidade de perguntar dos pequenos. Podem e devem avisar a professora da escola e pedir orientação para lidar de forma verdadeira com as questões levantadas, pois a capacidade de pensar está se formando e pensamento não combina com mentira.
Outra importante pesquisa que a criança faz nessa fase de intensa curiosidade está ligada a distinguir ideia real de ideia irreal, e examinar tudo que lhe interessa sob esse ponto de vista — essa é a forma como a criança se apropria do mundo e das ideias. Buscar prova da existência das coisas, julgar por si só e realizar deduções próprias é fundamento para que a inteligência e a autonomia se desenvolvam.
O senso de realidade não nasce pronto, é adquirido lentamente, por uma série de experimentações. O papel do adulto é acompanhar e ajudar a criança nesse intenso período de buscas, jamais de dissuadi-la de procurar respostas. Infelizmente muitos adultos não toleram a vivacidade e os questionamentos infantis. Dessa intolerância nasce a inibição da curiosidade e até agressão à inteligência infantil.
Luciana Saddi é psicanalista, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise (SP), mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP e autora dos livros de ficção O amor leva a um liquidificador (Ed. Casa do Psicólogo) e Perpétuo Socorro (Ed. Jaboticaba). Assinou por mais de dois anos a coluna Fale com Ela na "Revista da Folha", do jornal Folha de São Paulo. Representante do Endangered Bodies no Brasil.
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